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Para que não haja dúvidas, ele não é médico mas propõe-se ir dar uns conselhos a um amigo doente. Portanto a pergunta do exemplo é retórica. Quanto à pontuação, vejo três possibilidades:

(a) Mas tu és médico, para ires lá dar palpites?

(b) Mas tu és médico para ires lá dar palpites?

(c) Mas tu és médico? Para ires lá dar palpites?

Incluí a (c) só para ser exaustivo: dá ideia que o locutor não tencionava dizer "para ires lá dar palpites," e depois, num afterthought, resolveu dizê-lo. Mas entre (a) e (b), qual é a forma correta? Ou são as duas?

E qual é a classificação das orações? Dá-me ideia que a primeira é principal, e a segunda, subordinada (a primeira pode viver sem a segunda). Mas subordinada de que tipo? A frase parece-me semanticamente mais ou menos equivalente a:

Mas tu és médico, que possas lá ir dar palpites?

A segunda oração desta última frase parece-me um subordinada adjetiva explicativa. Se for assim, poderíamos classificar também assim a frase original (e argumentar assim que tem que levar vírgula)?

Já existem duas perguntas e respostas sobre a separação ou não de orações por vírgula, que poderão ajudar a responder à presente questão: vírgulas em orações subordinadas finais, causais e temporais e esta outra sobre vírgulas e orações subordinadas substantivas.

Jacinto
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3 Answers3

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A resposta é a letra b).

A finalidade da vírgula é organizar a frase de forma que não haja duplo sentido. Dessa forma, quando um termo é deslocado de sua ordem direta, ela deve ser utilizada.

Na forma mais simples, podemos dizer que a ordem direta é formada por sujeito (quem) + predicado (o quê). O predicado pode ser mais complexo e formado por outros termos (verbos, complemento nominal, complemento verbal, adjunto adverbial)

Veja os exemplos abaixo.

  • Ordem direta:

Ricardo comeu a sobremesa depois do almoço.

  • Ordem inversa

Depois do almoço, Ricardo comeu a sobremesa.

Aqui, o adjunto adverbial de tempo foi deslocado para o início da frase e, obrigatoriamente, de ser separado por vírgula.

Em frases contendo mais de uma oração, ou seja, mais de um verbo, a vírgula é utilizada para separar as orações. Exemplo:

Fui à igreja ontem, mas não rezei.

Veja mais sobre o assunto aqui

Entretanto, no exemplo dado:

Mas tu és médico para ires lá dar palpites?

O termo "mas" não exerce papel adversativo, mas sim aditivo (poderia ser substituído por "E"). A frase está em ordem direta, sem motivos para que haja vírgula.

Edição Sim, são duas orações. Mas, a segunda ("para ires lá dar palpites") é uma subordinada adverbial final e, por exercer papel de advérbio, só deve ser separada por vírgula quando deslocada de sua ordem direto.

  • Carlos, o problema é mais complexo. A minha frase tem duas orações. Há casos em que duas orações são separadas por vírgula: resolvi ficar em casa, pois estava a chover vê aqui discussão deste tipo de frases. Noutros casos, não pode haver vírgula entre as orações: peço-te que reconsideres a tua resposta vê aqui mais exemplos deste tipo – Jacinto Apr 25 '16 at 19:06
  • Tem razão, Jacinto. Editei a resposta. – Carlos Cariello Apr 26 '16 at 20:19
  • Carlos, a possibilidade da segunda oração ser adverbial final foi discutida nos comentários à pergunta (vê lá em cima). Eu estou um bocado cético (a finalidade de ele ser médico é ir dar palpites!?), mas não chegámos a conclusão nenhuma. – Jacinto Apr 26 '16 at 21:16
  • Por analogia, não vejo nenhum outro tipo mais indicado. Veja o link: https://pt.wikibooks.org/wiki/Portugu%C3%AAs/Per%C3%ADodo_composto/Ora%C3%A7%C3%B5es_subordinadas/Adverbiais#Ora.C3.A7.C3.A3o_subordinada_adverbial_final – Carlos Cariello Apr 29 '16 at 20:25
  • Editei a pergunta com uma sugestão. – Jacinto May 23 '16 at 19:53
  • A única reconsideração que eu proporia seria a de que o Mas que inicia a frase exerce, na verdade, função expletiva (bem como um E que o substituísse), uma vez que não adiciona por simples ausência de uma primeira oração à qual pudesse adicionar algo. – Marcelo Ventura May 24 '16 at 14:49
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A forma correcta é a b), no sentido da frase-chave.

Esta frase, como tantas outras é uma frase-chave (chavão). A frase é utilizada normalmente quando uma 3ª parte se intromete numa conversa alheia. Não necessariamente com "médico" (Outras Formas são Mestre, Doutor e Engenheiro) nem palpites (Bitaites). Usa-se também noutras circunstancias bastante específicas (Mas tu és cão para lá ir roer o osso? - Normalmente utilizado quando um homem tenta aproximar-se a uma mulher com segundas intenções). É uma frase feita.

(a) Mas tu és médico, para ires lá dar palpites?

Significaria que a pessoa é de facto médica, que não é verdade. A pausa, ou virgula, denota essa influência.

(c) Mas tu és médico? Para ires lá dar palpites

Não é incomum utilizar uma forma semelhante. Porém neste caso, a frase conota uma pergunta genuina, que não é o objectivo. Uma alternativa utilizando interogações seria "Mas tu por acaso és Médico? Para estares aí a dar palpites!", ou alternativamente, "Mas desde quando é que és Médico?". O Sarcasmo e a Ironia é a chave para estas expressões.

A opção B seria a mais correcta, dentro destas opções. Aqui fica uma lista de alternativas mais comuns:

Mas tu és médico para "tares" aí a mandar palpites?

Mas tu és Médico? É que estás aí a dar palpites.

Olha-me este com a mania que é Médico, anda aí a mandar palpites.

Oak
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Eu iria para a a), a virgula obriga a fazer a pausa que assenta de forma bastante subtil no processo de dicção.

Wiz
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    Oops, parece que o pessoal não gostou da tua resposta. Até é bem possível que eu esteja de acordo com a tua ideia, mas não tenho a certeza. Seria bom que a explicasses melhor. Por exemplo, por que é que a pausa na dicção é necessária? Que diferença faria se não houvesse pausa? Vejo que acabaste de chegar ao site. Valerá a pena dares por aí uma vista de olhos para ver o nível das respostas. Em geral espera-se uma resposta mais bem fundamentada do que a tua está presentemente. – Jacinto Nov 19 '15 at 19:36