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Estava escutando o novo disco dum grupo de música tradicional portuguesa, e numa das canções a forma do infinitivo não é a normal de -ar/er/ir senão -ari/eri/iri:

Extracto da letra para «Lá cima ó castelo» de Seiva

Já não há não há, já não pode haveri.
Vinho na caneca pra gente buêri.
Pra genti bueri pra gente pagari,
Já não há não há quem mande ir deitari

Obviamente, assim era a forma no latim e no romance (embora com -are/ere/ire) que se pode encontrar mesmo hoje nuns dialectos de asturiano e castelhano.

Esta forma conserva-se nalgum dialecto moderno do português ou fica agora totalmente extinto?

user0721090601
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    (guifa, deves gostar de "A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria". Procura por isso.) – ANeves Jan 06 '16 at 16:46
  • (Por certo, o vocablo buer parece um trasmontanismo que significa beber) @ANever obrigadíssimo! As sugestões que me dão Google e iTunes não servem muito bem para encontrar nova música deste tipo. – user0721090601 Jan 06 '16 at 21:10
  • Sim, há algumas zonas de Portugal onde se fala com esse sotaque. (Eu não tenho grandes certezas; por isso não consigo escrever uma resposta.) – ANeves Jan 07 '16 at 00:39
  • Lembro-me duma pessoa do sul (alentejano) que por vezes adicionava esse i no final dos verbos no infinitivo. Também encontrei um vídeo dos "Malucos do Riso" em que isso acontece. – Armfoot Jan 07 '16 at 12:32
  • Também se dizia buer em vez de beber na zona de Torres Vedras, a uns 50 km a norte de Lisboa. – Jacinto Jan 09 '16 at 10:29
  • Na comunidade piscatória de Ovar também se acrescenta o i ao infinitivo de muitos verbos. – Wilson Rodrigues Jan 13 '16 at 20:41

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Palavras terminadas em "ri" são normalmente reconhecidas em tempos modernos como parte do sotaque Alentejano (mais acentuado nas zonas entre Beja e Évora).
Este não foi sempre o caso, em tempos mais antigos este tipo de dicção estava espalhado desde a zona de Castelo Branco (possivelmente até Fundão) até à fronteira natural entre o Alentejo e Algarve pelas serras de Monchique e Caldeirão. A canção citada tem origem numa canção tradicional da zona da Beira-Baixa, e a versão do Seiva não se desvia muito do original.

Abaixo estão dois links, o primeiro contém comentários sobre a própria musica e o segundo para uma outra musica de origem similar e com o mesmo tipo de palavras.

http://diferencial.tecnico.pt/2015/11/04/tradicao-um-legado-que-reflete-o-contexto-sociopolitico/ http://www.memoriamedia.net/bd_docs/Transcricoes_Idanha_a_nova/zamburra.pdf

husoi
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