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This is from a Portuguese lesson/review on Duolingo. I am beginning to doubt that they had the right translation.

The phrasal use of the verb use in "used to" indicates a habit, in this case a habit in a past sense. It refers to a habit once kept, and is in past tense in English.

Is there a reason why in Portuguese you would use the present tense of costumar instead of the past tense? i.e, why is it:

Nós nunca costumamos caminhar nessa rua.

instead of

Nós nunca costumávamos caminhar nessa rua.

for

We never used to walk on that street.

Dan Getz
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roberto tomás
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It's likely not the present tense: nós costumamos is present indicative and also pretérito perfeito. The pretérito perfeito in Portugal is costumámos or costumamos; in Brazil, costumamos only. Nós costumávamos is pretérito imperfeito. That said, the pretérito perfeito is not idiomatic for this purpose.

To say that you used to do something in some period in the past, the imperfeito is what you want:

Nós não costumávamos caminhar naquela rua (naqueles tempos). [We didn’t use to walk on that street (in those days).]

To say that you never used to do something, that is, in no period in your whole life have you had a particular habit, the pretérito perfeito could be used, but it’s not idiomatic. It’s better to use ter o costume/hábito de:

Nunca tivemos o costume de caminhar nessa rua. [We never had the habit of walking on that street.]

Note that costumar means to have a habit only. You don’t use it for things such as hating cabbage, dating someone, having a job, etc. In those cases you use the imperfeito of the main verb:

Eu detestava couves quando era criança, mas agora até gosto. [I used to hate cabbage when I was a child, but now I like it; not eu costumava detestar couves.]

Eu trabalhava em Lisboa nesses tempos. [I used to work in Lisbon in those days.]

Jacinto
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Em minha opinião, nenhuma dessas traduções é muito feliz.

A perífrase costumar + verbo exprime geralmente um valor de aspeto habitual, embora nem sempre, como mostra Oliveira com a frase «eu costumava ter uma amiga com inúmeras pulseiras. Ela parou quando começou a deformar o braço». A frase não será porventura muito elegante, mas também não a rejeitaria (o mesmo se aplica àquela que o Jacinto dá como inaceitável: «eu costumava detestar couves»). Este uso não habitual aplica-se com muito mais força ao inglês used to (Oliveira cita o exemplo the Temple of Diana used to stand at Ephesus). Outro exemplo: you didn't use to be this way deve traduzir-se por não eras assim, embora não me pareça impossível não costumavas ser assim.

Em todo o caso, nas tuas frases há um estado habitual e um verbo que descreve geralmente um processo. Na seguinte frase (repara que substituí nunca por não):

Não costumamos caminhar nessa rua.

temos duas interpretações: como pretérito perfeito (=caminhámos em Portugal) e como presente.

Como presente, a forma é perfeitamente aceitável, mas refere-se a um estado de coisas presente; uma frase semelhante é:

Não caminhamos geralmente nessa rua.

Retirando o geralmente, temos ainda uma leitura habitual, mas que não admite as caminhadas excecionais que as frases com costumar admitem.

Mas claramente a frase original em inglês não descreve um estado presente. Consideremos a possibilidade de ser um pretérito perfeito, equivalente (em Portugal) a:

Não costumámos caminhar nessa rua.

Pesquisando no corpusdoportugues.org, encontramos exatamente zero exemplos relevantes para [costumar].[vJ*] (costumar no pretérito perfeito); no CETEMPúblico temos apenas um exemplo para a pesquisa equivalente [lema="costumar" & temcagr="PS_IND"]:

Numa relação de forças menos óbvia, com soberanias a respeitar, escolheu-se o que costumámos designar de «via lenta» de introdução de uma moeda única [...]

Parece-me que é um erro e que o autor queria escrever costumamos designar.

Portanto praticamente inexistem ocorrências de costumar no pretérito perfeito. Este ocorre quase sempre no pretérito imperfeito (costumávamos), o que é de esperar, dado que o pretérito imperfeito tem, tal como o presente, leituras habituais (Quando havia sol, caminhávamos nessa rua).

A razão por que a frase

??Nunca costumávamos caminhar nessa rua.

me parece pouco admissível deve-se à presença de nunca, que entra em conflito com costumávamos. Nunca é demasiado categórico para usar com costumávamos; o último deixa espaço para exceções. Repare-se também na impossibilidade/marginalidade duas frases seguintes:

*Nunca caminhávamos geralmente nessa rua.
??Geralmente, nunca caminhávamos nessa rua.

Se quisermos dizer nunca teve o hábito de (significado que é algo diferente), então temos de escrever:

Nunca tivemos o hábito de caminhar naquela rua.

Uma pesquisa nos corpora confirma a raridade da combinação de nunca com costumar. Fazendo uma pesquisa por "nunca" [lema="costumar.*"] no CETEMPúblico, temos zero resultados e apenas dois com a pesquisa correspondente no corpusdoportugues.org.

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