11

Se os sons /ʎ/ (gralha) e /ɲ/ (manhã) são raros em início de palavra (ver esta pergunta), o /ɾ/ (caro) é inexistente. Como é que os dois sons /ʁ/ (carro) e /ɾ/ surgiram no português? Já existiam dois erres diferentes no latim? E por que razão o /ɾ/ não aparece nunca em início de palavra?

bad_coder
  • 2,271
  • 1
  • 11
  • 34
Jacinto
  • 44,937
  • 17
  • 141
  • 257
  • 2
  • 3
    (This is not an answer.) That's because the two rhotic phonemes contrast only between oral vowels; otherwise they occur in complementary distribution. It's been suggested that these may therefore represent a single rhotic archiphoneme /R/, being neutralized into the same allophone in the initial position at the very least and sometimes (often?) for other non-intervocalic positions as well. The contrasting intervocalic rhotic, the only one in initial position, may have originated from a geminated /ɾɾ/ > /r/, then much later /r/ > /ʁ/ in many speakers. – tchrist Mar 02 '16 at 01:41
  • @tchrist «the two rhotic phonemes contrast only between oral vowels». Is that about Latin? Not sure that's true in some European Portuguese dialects. Say, in Alentejo, vou ali ver um /tʁenu/ is different from vou ali ver um /tɾenu/. – Jacinto Mar 02 '16 at 09:58
  • @Jacinto Do those mean different things, even if said differently? WIkipedia says “Os dois fonemas róticos, /ʁ/ e /ɾ/, sofrem contraste apenas quando entre vogais. No início das palavras e depois de /l/, /z/, /ʒ/ e de vogais nasais apenas a primeira ocorre e nos conjuntos consonantais (ex: pr, fr, cr,...) apenas o segundo acontece, enquanto em outras situações a maioria dos dialetos usa apenas a segunda. No entanto, diversos dialetos brasileiros, entre eles o dialeto carioca, utilizam-se da segunda no final das sílabas.” – tchrist Mar 02 '16 at 12:15
  • 2
    @tchrist In European Portuguese many unstressed *e* is hardly audible or completely elided in relaxed speech. Hence terreno (piece of land in the example) will basically sound /tʁenu/. Many people in southern Portugal will pronounce *ei* as /e/; hence treino will be pronounced /tɾenu/. Similarly, for many people in all of Portugal, relaxed pronnunciation of Ferreira (common surname) will be /fʁɐjɾɐ/ and freira is pronnounced /fɾɐjɾɐ/. – Jacinto Mar 02 '16 at 19:01
  • No início da palavra /ɾ/ tem som de /ʁ/ – Gabriel Anderson Mar 12 '16 at 20:31
  • @GabrielAnderson Imagino que queiras dizer que a letra *r* em início de palavra tem o som /ʁ/. Mas não é por isso que o som /ɾ/ não aparece em início de palavra. Se aparecesse, poderíamos usar erre duplo em início de palavra para o som /ʁ/ (e.g. rrainha, como se vê nalguns textos medievais) e o um erre único para o som /ɾ/. – Jacinto Mar 12 '16 at 21:36
  • @Jacinto Imagino que queiras dizer que a letra r em início de palavra tem o som /ʁ/. Exatamente! – Gabriel Anderson Mar 21 '16 at 01:54

2 Answers2

5

Havia, sim, mais tardiamente, no latim dois sons róticos distisintos. O /ɾ/ (tepe alveolar sonoro), como o atual e o som /r/ (vibrante alveolar sonora), orindo de "Rs" geminados e no início de palavras. Um sistema como o do castelhano e do italiano atuais.

No português, por volta do século XIX, um processo parecido com o que ocorreu no francês, fez com que a vibrante fosse à parte de trás da boca, tornando-a o "som de dois erres".

Basicamente, o fato de no latim não ocorrer o tepe no início de palavras, fez com que o português também não o tivesse!

ENGLISH VERSION

There was, indeed, lately, in latin two distinct rhotic sounds. The /ɾ/ (voiced alveolar tap), like the modern one and the sound /r/ (voiced alveolar thrill), originated from the geminate "Rs" and those at the beginning of words. A system that resembles the Castillian one and the Italian one.

In Portuguese, around the 19th century, a process, that looks like the one that happened in French, made the thrill go to a posterior part of the mouth, making it the "two Rs sound".

Basically, the fact that latin didn't have a tap at the beginning of words makes the portuguese language lack them!

Ergative Man
  • 1,509
  • 6
  • 24
  • 1
    Excelente. Então, se houve dois erres no latim só tardiamente, qual foi o original? O vibrante, que mais tarde, quando precedido de vogal, se aligeirou para tepe? Tou a especular; é só o que me parece mais plausível. – Jacinto Mar 11 '20 at 19:25
  • Há muuuito tempo pode ter sido só o "r" como tepe que se modificou nos ambientes de início de palavra e quando gemeniado! – Ergative Man Mar 11 '20 at 19:28
  • 1
    Bem visto que também há o geminado. Esse duplo tepe seria análogo ao duplo tt, ll, etc., que os italianos distinguem de t, l único? – Jacinto Mar 11 '20 at 19:34
  • Exatamente! Duas consoantes repetidas uma seguida da outra – Ergative Man Mar 13 '20 at 01:17
1

No Brasil tem uma cantora chamada "Baby Consuelo" que deu para suas filhas nomes diferentes. A uma das filhas ela deu um nome que usa o fonema /ɾ/ (caro) (Saiba mais sobre isso aqui e aqui.)

Uma das filhas recebeu o nome de Riroca (todos os r com /ɾ/ (caro)). Como não existia maneira de escrever esse fonema no início de uma palavra, a grafia foi registrada como 'Riroca.

Mais tarde ela mesma mudou o nome e a única palavra iniciada com este fonema sumiu. (Embora a palavra fosse um nome próprio, e por isso não estivesse registada em dicionário nenhum.)

English version

The Brazilian singer "Baby Consuelo" gave her daughters particular names. She gave one of the daughters a name that uses the phoneme ** / ɾ / (caro) ** (You can read more about it here and here.)

One of the daughters was named Riroca (all rs being ** / ɾ / (caro) **). As there was no way to spell that phoneme at the start of a word, her name was written as ** 'Riroca **.

Later the daughter herself changed the name, and this word starting with this phoneme disappeared. (Although it was a name, and thus not registered in dictionaries.)

ANeves
  • 7,117
  • 6
  • 29
  • 54