Vem aí o maior evento que você já viu
O Aulete classifica este aí desta forma:
9. Indica aproximação ou a iminência de algo: "Vem aí a neve. Trago os pés como calhaus e olhe que pus dois pares de coturnos de lã" (Aquilino Ribeiro, Caminhos errados)
Repare-se no exemplo. Aponta imediatamente para que esta primeira frase está correta. No mesmo sentido, a opinião de Teresa Álvares no Ciberdúvidas é a seguinte:
Relativamente à virgulação dos advérbios, Sá Nogueira é taxativo: «Os advérbios [...] quer [...] [se anteponham, quer se posponham ao verbo], nunca se separam por vírgulas, a não ser quando haja alguma intercalação».
De seguida distancia-se um pouco desta opinião, mas em todo o caso há uma preferência pela omissão das vírgulas, exceto quando se trate de «expressões de teor intercalado ou explicativo».
Cunha e Cintra têm uma opinião semelhante (pág. 642 da 1.ª ed. da Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, referências omitidas):
Quando os adjuntos adverbiais são de pequeno corpo (um advérbio, por exemplo), costuma-se dispensar a vírgula. A vírgula é, porém, de regra quando se pretende realçá-los. Comparem-se estes passos:
- Depois levaram Ricardo para a casa da mãe Avelina.
- Depois, o engraçado são as passagens de nível, os aparelhos de sinalização, os vagões-cisternas…
- Depois, tudo caiu em silêncio.
Curioso que os exemplos sejam com depois, na pesquisa que fiz no CETEMPúblico por [lema="vir"] "," [pos="ADV"]
, depois aparece frequentemente. Outros exemplos:
O jovem lateral veio, ainda por cima, de um clube da III Divisão, o Padernense.
O que o tempo veio, infelizmente, confirmar.
De Londres veio, naturalmente, uma reacção mais fleumática.
A meu ver, há uma diferença substancial entre estes exemplos e a tua terceira frase — «vem aí» forma um grupo prosódico; não há qualquer hipótese de fazer uma pausa entre «vem» e «aí». Se aí tivesse um sentido locativo, ainda consigo admiti-lo (talvez com ligeira mudança no significado):
Em breve hão de vir, daí, muitos problemas.
Resta só o segundo exemplo:
Vem aí, o maior evento que você já viu.
Caímos no caso típico em que não se deve usar a vírgula: para separar o sujeito do verbo. Esta regra não é tão categórica como por vezes se diz, e perderá alguma força pelo facto de o sujeito estar deslocado para depois do verbo. Helder Guégués dá estes exemplos:
- Tem piada, isso que me dizes: eu também reparei nesses tiques de ajeitar o casaco de Manuel Maria Carrilho.
- Grande treinador, o Mourinho!
Na leitura que faço da frase, não há (nem de perto!) um destaque comparável para vem aí. Assim sendo, aplica-se a regra geral, apesar da posposição do sujeito (como em existem já muitas cópias).