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Para facilitar a compreensão e porque eu considero a forma que deveria ser correta, "prà" = "pra a". Eu sou brasileiro, então, pode ser algo dialetal.

Em "quero ir pra Goiás", pra tende a ser mais fechada e talvez menos tónica do que prà em "quero ir prà praia". A diferença não é suficiente para distinção óbvia entre "pra" e "prà"; digo, se eu falasse todos os "prà(s)"s como "pra" e todos os "pra(s)"s como "prà(s)"s, não soaria incorreto, mas eu não falaria assim. O mesmo acontece com "parà" e "para" (parà = para a); na realidade, com bem mais força com "parà" e "para".

O mesmo também ocorre com "à" e "a". Em "às 6:00" e "vou a igrejas", às parece ser mais tônico e aberto do que a.

Pelo que sei, em Portugal, "prà" e "pra" são falados diferentemente. Mas seria o caso disso, no Brasil? Ou seria algo exclusivamente dialetal?

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    Sabes bem: em Portugal esse prà (= pra a) tem timbre aberto (á), enquanto só pra tem timbre fechado (â). Isso não acontece só com pra. Sempre que dois ás fechados átonos se encontra, eles fundem-se num único á aberto. Por exemplo, a preposição a e o artigo feminino a têm ambos timbre fechado, mas à (a + a) tem timbre aberto; leva* luz* tem timbre fechado, mas leva a* luz* soa como levà* luz*, com timbre aberto. Estou curioso para saber se existe uma diferença parecida algures no Brasil. – Jacinto Aug 29 '20 at 10:37
  • @Jacinto, em encontro de dois As átonos, isso também ocorre, eu acho. Mas entre "pra" e "prà", e entre "a" e "à", tenho minhas dúvidas. Eu devia ter incluído "a" e "à" também. –  Aug 29 '20 at 19:33
  • @Jacinto, eu tenho minhas dúvidas em relação ao Brasil, não em relação a Portugal. Eu escrevi mal. –  Aug 29 '20 at 21:03
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    Compreendi. Historicamente, todos estes aa resultam de fusão Antigamente, escrevia-se aa em vez de à; imagino que se pronunciassem os dois aa. Os portugueses tenderam a fechar o timbre dos aa átonos, mas não dos que resultaram de fusão. Isso vê-se mesmo no interior de palavras (vê esta pergunta). Por exemplo, em Portugal o primeiro a de padeira é "anormalmente" aberto (ao contrário de ladeira, madeira) e no português antigo era como? Paadeira. – Jacinto Aug 30 '20 at 12:03
  • @Jacinto, não sei se pronunciavam os dois As em "aa" (= "à"), mas sei que era comum dobrar vogais para mostrar vogal aberta; ex.: "moor" em vez de "mor" para indicar "mór". –  Aug 30 '20 at 18:17
  • @Jacinto, porque lat. "Solus" → pt. "Solo" → "soo", sendo "oo" um hiato com ambos os Os fechados, → "só", agora "o" aberto. Por isso era comum escrever vogais dobradas para indicar vogal aberta. –  Aug 30 '20 at 18:24
  • @Jacinto, pelo que sei, essa mudança aconteceu entre 1500-1550 (até que bem rápido), então, essa mudança provavelmente chegou ao Brasil. Mas o Brasil não diferencia vogal A aberta e vogal A fechada, então, "à' é diferente de "a" preposição. Por isso achei que fosse algo dialetal. –  Aug 30 '20 at 18:35
  • Creio que estás a fazer uma confusão qualquer e a projetar a pronúncia atual no português medieval. Dizes bem, " 'soo' sendo 'oo' um hiato". O hiato é uma separação entre os dois oo: os dois oo eram pronunciados com um hiato entre eles, após a queda do l em solo. O teu raciocínio anterior aplicado a dolor → door → dor concluiria que dois oo indicavam ô fechado! A Gramática do Português da Gulbenkian diz que estes hiatos desapareceram no século XV. Que mudança ocorreu em 1500-1550? – Jacinto Aug 31 '20 at 14:46
  • @Jacinto, eu devo ter me confundido XV, que é 15, com século XV, que é 1400. Desculpa, o livro que li piora quando chega nessa parte e eu me confundi com a data. Mas vários hiatos se transformaram em uma só vogal aberta, porém ou "dor" é uma exceção ou o meu livro não explica. Desculpa. –  Aug 31 '20 at 17:48
  • @Jacinto, peço-te mil perdões. O livro fala sobre um hiato se transformando em apenas 1 vogal, esta aberta, estando esse hiato EM POSIÇÃO PRETÓNICA. Por exemplo, "esquecer", que o penúltimo "e" é aberto, em português de Portugal, pelo menos. Um dos "o"s em "coor" era tônico, então, "o" em "cor" não é aberto. Desculpa, de novo. –  Sep 01 '20 at 02:06
  • Não é preciso pedir desculpa. A questão fundamental é que as vogais dobradas, aa, oo, ee (general → geeral) representavam duas vogais pronunciadas com hiato entre elas, não um única vogal. Depois fundiram-se numa única e passaram a ser representadas por um única vogal. É verdade, em door, coor, uma vogal é tónica. Exceção nas pretónicas, tens geeral → geral, geerar → gerar, com e pronunciado [ɨ] (quase sumido, não existe no Brasil), mas geeração → geração com é aberto. – Jacinto Sep 01 '20 at 06:56

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Dentro do que consigo perceber, não há diferença alguma, ao menos nos dialetos com que me considero mais familiar (caipira, sulista e paulistano). Então, eu diria que a diferença que o OP descreve não é predominante em pt-BR.

stafusa
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