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Exceto com palavras estrangeiras (p.ex., idem, /ˈidɛm/) e vários portugueses que falam sem como /sɐ̃j̃/ (semelhante a ãe em mãe), sempre vejo falando alguém, nem, outrem, garagem com e fechado, mas muitas são grafadas com é, o qual geralmente se considera aberto, como em légua e pérola.

Então pergunto: por que se escreve alguém em vez de alguêm?

No Brasil, a palavra sêmen, por exemplo, se grafa com ê porque é fechado no Brasil, porquanto é nasal, então, grafar e nasal com ê não é algo proibido de acontecer; outrossim, há têm.

Schilive
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    Boa pergunta. Especialmente no pt-br esse acento agudo numa vogal fechada parece estranho - embora existam outros exemplos, como "também". Questão relacionada ou duplicada: https://portuguese.stackexchange.com/q/569/2764 . – stafusa Jul 04 '21 at 23:01
  • Acho que em pt-PT a vogal é aberta. – Centaurus Jul 05 '21 at 00:03
  • @Centaurus, não sei hoje, exceto os portugueses que falam "ãe", mas, no século XIII, era fechada. – Schilive Jul 05 '21 at 00:37
  • Oxítonas com sílaba tônica terminada em ditongo nasal -em ou -ens são acentuadas.https://www.todamateria.com.br/regras-de-acentuacao/ – Lambie Jul 05 '21 at 20:36
  • Boa pergunta, também percebi isso quando aprendi a escrever (há muito tempo). Considerei que era apenas uma exceção (por motivos históricos desconhecidos) e como, apesar de ilógico, era totalmente previsível, esse acento não incomodava tanto quanto outros tipos de exceção. – marcus May 19 '22 at 16:16

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É simples. Escreve-se “Também,Alguém…” porque em português europeu, pronuncia-se com a vogal aberta, logo, o acento é agudo. Já vi documentos históricos antigos onde, no Brasil, “tambêm” era escrito com acento circunflexo, justamente por ser o que articulamos. Há, entretanto, a possibilidade de tais vocábulos serem escritos assim para diferenciar alguns que têm diferenciação para a forma singular e plural. Exemplo: “Ele obtém” e “Eles obtêm”.

Há outros grupos de palavras onde ocorre praticamente o mesmo caso, porém esses são adaptados à região. “Sinônimo, Atômico, Antônio (BR) e Sinónimo, Atómico e António (PT)”.

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    Boas-vindas ao Portuguese SE! Obrigado pela contribuição, se você pudesse adicionar uma referência ou link às fontes que você menciona, seria ótimo. – stafusa Aug 14 '22 at 14:51
  • Isto não é verdade, em português europeu padrão também rima com mãe. Em nenhuma região, que saiba, é pronunciado com o e fechado. – Artefacto Aug 16 '22 at 10:28
  • É sim, na verdade a pronúncia do português padrão é limitada ao falar de Lisboa. No norte principalmente o ditongo é como no Brasil. – Ergative Man May 11 '23 at 21:45
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Primeiro, não há distinção fonológica entre vogal nasal fechada e vogal nasal aberta, logo a princípio não importaria se fosse "alguém" ou "alguêm". (Eu, pelo menos, pronuncio como [ẽ̞ɪ̯̃], um ditongo que inicia com um elemento intermediário entre aberto e fechado; a nasalização porém dá a aparência de que a vogal é fechada.)

(Há em dialetos europeus distinção fonológica entre vogais não nasais fechadas e abertas antes de consoantes nasais.)

Por que então escrever "amêndoa" e não "améndoa", mesmo que a vogal nasal (e não nasalizada!) tenha a mesma pronúncia que em "alguém"? Para tal decidi pesquisar nas reformas ortográficas históricas.

Em Bases da Ortografia Portuguesa (1885) [1], há as partes relevantes:

5.º bis. Todo vocábulo terminado em a ou as, o ou os, e ou es, proferido com acentuação noutra sílaba que não seja a penúltima, tem a acentuação marcada na escrita. São innúmeros os exemplos; [...]

[...]

6.° bis. [...] Ex.: [...] pénsil, pénseis; [...]

[...]

N.B. Pelo princípio 5.º bis devemos escrever e escrevemos: porém, ninguém, também, além, etc.; deveríamos, todavia, usar da ortografia: porẽe, ninguẽe, tambẽe, etc. Deixámos êste ponto para o Congresso.

No Diário do Governo português de 1911-09-12, página 3847 (primeira coluna, sexto parágrafo) [2]:

O ditongo em, quando predominante em polissílabos, receberá o acento circunflexo, com em armazêm, armazêns, porêm [...].

Já no Acordo Ortográfido de 1945 [3]:

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Emprego do acento circunflexo nas formas da terceira pessoa do plural têm, vêm, contêm, convêm, etc., gràficamente distintas das terceiras pessoas do singular corresponde — tem, vem, contém, convém, etc. Essas formas terão emprego exclusivo na escrita corrente, preterindo assim as flexões tẽem, vẽem, contẽem, convẽem, etc., que se consideram como dialectais.

Em suma:

  • Antes uns propuseram usar "ém" em todos os casos, e outros propuseram usar "êm" em todos os casos.
  • O Acordo de 1945 propôs o sistema como é atualmente, no qual "êm" (para a vogal nasal graficamente acentuada) é usado exceto no final das palavras, onde ém o substitui, a fim de que "êm" final seja usado unicamente para os verbos 3ª pl. têm, vêm, etc., que não são mais grafados com e duplo.
  • Depois o Acordo de 1990 permitiu variantes académico/acadêmico (aqui as vogais são só no máximo nasalizadas, não fonologicamente nasais, e com efeito a distinção de timbre antes de m e n ocorre em dialetos europeus); não alterou a acentuação do êm/ém no final da palavra ou seguido de consoante.

Obs.: o Acordo de 1990 [4] escreve "Note-se que se as vogais e e o, assim como a, formam sílaba com as consoantes m ou n, o seu timbre é sempre fechado em qualquer pronúncia culta da língua, recebendo, por isso, acento circunflexo", faltando erroneamente a menção ao "ém" final.

[1]. https://purl.pt/437

[2]. https://files.dre.pt/gratuitos/1s/1911/09/21300.pdf.

(Ligações encontradas em https://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Ortogr%C3%A1fica_de_1911.)

[3]. https://pt.wikisource.org/wiki/Acordo_Ortogr%C3%A1fico_da_L%C3%ADngua_Portuguesa_(1945)/I

[4]. https://pt.wikisource.org/wiki/Acordo_Ortogr%C3%A1fico_da_L%C3%ADngua_Portuguesa_(1990)