Estou tendo problemas para analisar a função sintática de algumas frases envolvendo locuções verbais. Na frase:
Paulo deixou cair suas canetas.
"suas canetas" seria objeto direto?
Estou tendo problemas para analisar a função sintática de algumas frases envolvendo locuções verbais. Na frase:
Paulo deixou cair suas canetas.
"suas canetas" seria objeto direto?
Ao que parece há mais do que uma análise possível. Este artigo de 2007 no Ciberdúvidas apoia-se na Nova Gramática do Português Contemporâneo de Celso Cunha e Lindley Cintra para analisar “em moldes tradicionais” um frase do mesmo tipo: “Deixai vir a mim as criancinhas”. Aplicando essa análise à tua frase, deixou cair é uma perífrase verbal, com deixar como verbo auxiliar, e suas canetas é sim senhor o objeto direto da perífrase verbal.
Mas uma edição posterior da mesma gramática, de 2014, que eu tenho à minha frente, faz uma análise diferente. De acordo com esta análise, no teu exemplo não temos uma perífrase verbal, mas sim duas orações: Paulo deixou é a oração subordinante, e cair suas canetas uma oração subordinada, objeto direto de deixou, e suas canetas é o sujeito de cair, sendo equivalentes a duas frase seguintes:
Paulo deixou cair suas canetas
Paulo deixou que caíssem suas canetas
Cito a Gramática (Lisboa, 2014, p. 384):
Se compararmos as duas frases:
Mandei que ele saísse.
Mandei-o sair.verificamos que o objeto direto, exigido pela forma verbal mandei, é expresso:
a) na primeira, pela oração que ele saísse;
b) na segunda, pelo pronome seguido do infinitivo: o sair. E verificamos também que o pronome o está para o infinitivo sair como o pronome ele para a forma finita saísse, da qual é sujeito. Logo, na frase acima o pronome o desempenha a função de sujeito do verbo sair.Construções semelhantes admitem os pronomes me, te, nos, vos (e o reflexivo se, que estudaremos à parte). Exemplos:
Deixe-me falar.
Mandam-te entrar
Fez-nos sentar.
Repara que o sujeito do infinitivo ser um pronome não tem nada de especial (ou melhor, tem a curiosidade de termos um pronome oblíquo a servir de sujeito, mas isso é outra história). Para o que nos interessa aqui não há diferença qualitativa entre deixe-me falar e deixe o Paulo falar ou deixe a caneta cair.