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Vejamos as seguintes frases:

  • "Pensei que o seu aniversário era hoje." x "Pensei que o seu aniversário fosse hoje."

  • "Pensei que ela era sua irmã" x "Pensei que ela fosse sua irmã."

Estão ambas as construções corretas? Há alguma diferença semântica? São perfeitamente intercambiáveis? Bem aceitas em qualquer registro?

Centaurus
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As duas formas estão corretas. Um exemplo muito semelhante já foi discutido no Ciberdúvidas: '«Pensei que fosse/era»: o modo das completivas selecionadas por verbos epistémicos':

Enquanto verbos de orações completivas verbais de complemento/objeto direto — «que fosse», «que era», «que o filme era mais comprido», «que o filme fosse mais comprido» —, selecionadas por um verbo epistémico («Pensei»), a norma seleciona «o modo indicativo» (...) mas, por outro lado, também «é possível a ocorrência do modo conjuntivo mesmo quando a frase superior não é negativa (...) o que se pode observar através dos seguintes exemplos:

«Os estudantes pensavam que podiam repetir a prova.»

«Penso que ele ainda está na faculdade a esta hora.»

«Penso que ele ainda esteja na faculdade a esta hora.»

Portanto, uma vez que nos encontramos perante um caso «em que existe opção entre indicativo e conjuntivo, a seleção do modo conjuntivo exprime maior distância do locutor relativamente à verdade do conteúdo proposicional da frase completiva».

Ou seja, dito de outra forma: sempre que estamos presente uma oração subordinada substantiva completiva de complemento/objeto direto, isto é, orações do tipo:

  1. O João sabe que estamos à espera dele. (O João sabe isso/[-o]).
  2. Pensei que ainda fossemos/íamos ao parque. [Pensei isso/[-o]].
  3. Achava que o João fosse/era estudante. [Achava isso/[-o]].

(caracterizadas pelo facto de a oração subordinante servir a função de objeto direto a um verbo transitivo e poder facilmente ser substituída por um pronome, como demonstrado nos exemplos acima), e em que, na oração subordinante é utilizado um verbo epistémico (saber, pensar, achar, acreditar,...), tanto o uso do do modo indicativo (no seu exemplo, 'era') como do conjuntivo ('fosse') estão gramaticalmente corretos.

A diferença, como destacado no link que referenciei, está no facto de o modo conjuntivo (como em 'fosse') exprimir maior distância do locutor em relação àquilo que é dito (pelo que pode ser considerado mais adequado, por exemplo, em contexto formal). Já o modo indicativo é muito mais usado em contexto de fala espontânea/casual.

Por isso, acho que a resposta à sua pergunta é mesmo a seguinte: ambas as formas são corretas, e o uso de uma ou outra dependerá sempre do contexto/registo de utilização. Num contexto mais formal, o modo conjuntivo será, por norma, o mais indicado.

Nota: A exceção é quando, apesar de ser utilizado um verbo epistémico (saber, pensar, achar,...), está presente na frase uma negação na oração subordinante, como referido no mesmo link:

(...) A única situação, com os verbos epistémicos, «que pode determinar ocorrência obrigatória de conjuntivo na completiva» é quando há «a presença de negação frásica na frase superior» [oração subordinante], como se pode observar nos seguintes exemplos:

«Não penso que ele chegue a tempo do jantar.»

«Não penso que ele *chega a tempo do jantar.» (*agramatical)

Rye
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    Você poderia expandir sua resposta. Uma resposta com mais detalhes, explicações e exemplos ? – Centaurus Jun 02 '22 at 23:00
  • Tudo o que expliquei está detalhado no link, mas, de qualquer forma, expandi a resposta – Rye Jun 06 '22 at 21:05