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É sabido que em grande parte do Brasil as vogais tónicas são nasaladas quando seguidas de consoante nasal (m, n ou nh) na sílaba seguinte. Por exemplo,

                    pronunciado (quase?) como

  • cana         →        cãna,
  • remo        →        rẽmo,
  • ponho      →        põnho.

Ao que parece, a vogal tónica nesta situação sofre alguma influência nasal em todo o lado, mas o artigo sobre Portuguese pholonology (Wikipedia em inglês) diz que essa influência é quase inexistente em Portugal, São Paulo e sul do Brasil.

A minha pergunta é se também há influência nasal quando a consoante nasal está na palavra seguinte, como:

                    pronunciado (quase?) como

  • Zé Manel      →        Zẽ Manel ?
  • Zé Nota        →        Zẽ Nota ?
  • está mal       →        estã mal ?

Ou ainda, o em Zé Manel ou Zé Nota é diferente do de Zé Carlos? Ou vi muito depressa confunde-se com vim muito depressa (mesmo que não se fale muito depressa)?

Jacinto
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  • A palavra remo (remar), não é realmente nasalada como seria o caso de: capim. E a cana-de-açucar também não. ponho por definição sim. :) como risonho e canhota, por exemplo. Qualquer palavra com nho ou nha, sim. As outras, não. – Lambie May 02 '22 at 20:30

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Não, não consigo encontrar nenhum exemplo em que isso acontece, ao menos nos falares com que tenho familiaridade.

Zé em Zé Manel ou Zé Nota é diferente do de Zé Carlos

Não, o "Zé" é pronunciado marcadamente separado da palavra seguinte.

vi muito depressa confunde-se com vim muito depressa (mesmo que não se fale muito depressa)

Talvez, mas principalmente pelos "i"s serem, para mim, iguais nos dois casos.

stafusa
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  • Um é / i /, o outro é / ĩ /. Tu és daqueles que nasalas remorẽmo? Ou distingues bem quem nasala de quem não nasala. Eu antes de ler sobre isso nunca tinha notado nada. Confirma-se o que diz a Wikipedia, que em São Paulo quase não se nasala? Creio que já ouvi o contrário… – Jacinto May 02 '22 at 18:23
  • @Jacinto Sim, digo "rêmo". Sobre São Paulo acho difícil dizer com certeza, mas também não creio que se nasale muito menos. A usuária megskae, de SP, pronuncia "cama" com o primeiro "a" fechado — apesar de que aos meus ouvidos os áudios de Portugal também, então talvez esse seja uma mau exemplo. – stafusa May 02 '22 at 18:35
  • Calma: uma coisa é rêmo, outra é rẽmo; não é só uma questão de timbre aberto versus fechado. Por exemplo, cêdo e sendo = sẽdo têm ambos E fechado, mas num é oral, no outro é nasal. Em cama, a questão é se o primeiro A é simplesmente fechado como em cada ou se é nasal como em canta = cãta. – Jacinto May 02 '22 at 19:20
  • @Jacinto Sim, sim, em "cama" é anasalado. Fico imaginando se â e ã são quase sempre o mesmo no meu dialeto... – stafusa May 02 '22 at 19:41
  • O A é capaz de não ser bom teste. O meu primeiro A de cada é fechado, mas o teu é capaz de ser aberto. No E (se o E de feno é como o de cêdo fechado oral, ou o de sendo = sdo nasal) e O (se o O de lona é como o de lôba fechado oral ou o de lomba = lõba nasal) é que se vê bem se h – Jacinto May 02 '22 at 20:12
  • Eu francamente não entendo: cama, não, caminho, sim. Cana, não, canhota sim. E assim pra frente. – Lambie May 02 '22 at 20:33
  • @Jacinto Me baseando nessa lista de símbolos fonéticos para o pt-BR, há 4 a's: os abertos /a/ ("caro") quase igual ao /ə/ ("janela") (citação: "pode ser substituído por [a], sem prejuízo para a comunicação."); e os fechados /^/ "levemente nasalizado" ("cama", "cana", "cânhamo") e o nasal /ã/ ("canto", "órfã"), mas eu francamente vejo pouca ou nenhuma diferença entre esses dois últimos, não acho, por exemplo, que o "a" de "cânhamo" seja menos nasal que o de "canto". – stafusa May 02 '22 at 21:07
  • @Jacinto Quanto ao "e", talvez seja mesmo melhor para distinguir. Acho que, grosso modo, anasalamos mais, mas é possível distinguir o "e" de "cêdo" do de "sendo" e este último é igual (muito anasalado) ao de "feno". – stafusa May 02 '22 at 21:13
  • @Lambie Para mim ambos "cama" e "caminho" têm o "a" anasalado; idem para "cana" e "canhota". Cf. a lista de símbolos fonéticos do Michaelis. – stafusa May 02 '22 at 21:14
  • Claro: caminho, o nho é sempre nasalado. Mas cama, não. Todo m em português não é nasalado. Fala a palavra cama uma ou duas vezes. Não tem nenhum som "nasal". O air sai na primeira sílaba: CA e depois na segunda: MA sem passar pela nariz. Nada está acontencendo na nariz na palavra cama ou camera. cana de açucar é igual. Não passa pela nariz, gente. :) – Lambie May 02 '22 at 21:23
  • Acabo de falar com dois brasileiros. Os dois me disseram que cama e camera não são nasalidas. Claro, cante, sim. – Lambie May 02 '22 at 21:50
  • @Lambie O Brasil tem uma diversidade de sotaques. O Michaelis descreve o "a" de "cama" e "cana" como "levemente nasalizado", e é assim que experiencio também, em mim mesmo e em muita gente que conheço — penso que anasalo em algum grau quase todo "a" fechado. – stafusa May 03 '22 at 04:45
  • This is a really complicated subject. That said, the Brazilian Portuguese pronunciation of cama and the Iberian Portuguese pronunciation of cama can give the latter a distinctive nasal feature that is not heard as strongly in the former. – Lambie May 12 '22 at 19:25
  • @stafusa, não sei se isto te interessa saber, mas acho que faço diferença entre as tais vogal levemente anasalada e nasal. Falo /kɐ̃ma/ (cama), /kɐ̃na/ (cana) e /kɐ̃ɲamʊ/ (cânhamo), mas falo /kɐ̃ŋtʊ/ (canto). De órfã, já posso dizer tanto /ɔɹfɐ̃/ quanto /ɔɹfɐ̃ŋ/, mas sempre considerei /ɔɹfɐ̃/ mais correto, enquanto dizer /ɔɹfɐ̃ŋ/ é força de hábito. Por isto, para mim «vim depressa» é /vĩŋd͡ʒɪprɛsa/ e «vi depressa» é /vid͡ʒɪprɛsa/, então, não faço confusão entre as frases. Para mim, «pinta como eu pinto» não tem graça — com é /kõŋ/ e como é /komʊ/. Sou de São Paulo, SBC. – Schilive Jun 19 '22 at 00:54