Meu pai me disse que meu avô costumava falar o seguinte provérbio:
Quem faz filhos em mulher alheia, perde-lhe o tempo e o feitio.
Alguém poderia me ajudar a entender o significado dele?
Meu pai me disse que meu avô costumava falar o seguinte provérbio:
Quem faz filhos em mulher alheia, perde-lhe o tempo e o feitio.
Alguém poderia me ajudar a entender o significado dele?
O significado não é nada o que eu estava à espera. Significa que quem faz melhoramentos em algo que não lhe pertence, não tira proveito deles. Por exemplo, pintas uma casa alugada e renovas o soalho, depois se tens de ir embora, o dono da casa é que beneficia do trabalho e despesa que tiveste. A frase aparece no dicionário de Domingos Vieira de 1871:
Alheio […] Fazer filhos em mulher alheia, fazer bemfeitorias em propriedade de outrem.
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira de 1936 diz:
Fazer filhos em mulher alheia: trabalhar sem tirar proveito, que fica para outro.
O exemplo mais antigo que encontrei é de 1858, em que um indivíduo alega ser o legítimo proprietário de terras em que outro fez obras (grafia original e negrito meu em todas as citações):
[…] e nem a esperteza de se haver contra o direito levantado nas mesmas terras um engenho de esteios, e feito outras obras, o que foi em tempo devidamente embargado, pois que he bem sabido que quem faz filhos em mulher alheia perde-lhe o feitio, prejudica ditos titulos, e o reconhecimento judicial de pertencerem as referidas terras ao engenho Pintos […]
Diário de Pernambuco, 5 de abril de 1858
Tal como neste caso, a maior parte dos exemplos mais antigos que encontrei são a propósito de obras em terras ou casas de outros:
bem se lhe roía a alma por ter posto o corpinho durante tanto tempo a esmoitar aquele matagal e agora, depois da terra escolhida―que nem uma pedra lhe deixou no meio―acabou-se. Isto de fazer filhos em mulher alheia, perde-se-lhe o tempo e o feitio. Merda.
Luís de Carvalho e Oliveira, Santofâmia, 1962
Frequentemente, encontra-se simplesmente fazer filhos em mulher alheia:
[…] o rendeiro deseja prazos prolongados que lhe permitam reter a segunda renda diferencial obtida com a inversão de novos capitais: o proprietário deseja beneficiar-se dos melhoramentos que o rendeiro faz; êste evita fazê-lo por não estar disposto a “fazer filhos em mulher alheia”.
Álvaro Cunhal, A questão agrária em Portugal, 1968― É verdade, ó Duartinho: os meu sinceros parabens: ¡mandaste abrir uma sacada na casa onde moras, e pôr um belo portão de ferro!... Não te devia ficar nada barato.
― ¡Tu estás a troçar-me, com toda a certeza! Era o que me faltava: fazer filhos em mulher alheia! ... Isso tudo, foi mandado fazer pelo meu senhorio , meu velho.
José da Fonseca Lebre, Locuções e modos de dizer na Província da Beira Alta, 1924 mais segundo excerto para completar