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Nunca entendi o porquê disso. Pra mim sempre foi um caso de sujeito oculto.

O sujeito de "Está chovendo" é a chuva, pois é ela quem chove. Analogamente o de "Chove lá fora" é a chuva e o de "Está nevando" é a neve.

É redundante, sim, mas não quer dizer que seja errado só por ser redundante.

Estou muito errado em pensar assim? Por quê?

anchova
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3 Answers3

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Em muitos casos a aplicação dessas classificações tem algum grau de subjetividade, e não é incomum haver divergências inclusive entre especialistas. Então sua posição talvez não seja errada, mas apenas incomum.

Por exemplo, um caso bem interessante, relacionado à pergunta, é o da "Qual o sujeito da frase "Parece que você cometeu um erro"?", em que o sujeito pode ser visto como inexistente ou como sendo a frase que começa com "que" (caso em que "parecer" é implicitamente "parecer verosímil/verdade/provável/real").

De volta à questão:

"Está chovendo", "Chove lá fora" e "Está nevando"

A justificativa usual para classificar esses exemplos como de sujeito inexistente é que neles não haveria um sujeito claro ou mesmo necessário. Numa frase com sujeito subentendido (antigamente chamado de sujeito oculto), ele é claro e necessário: "[eu] comi bolacha", "[nós] estamos perdidos"; no caso do sujeito indeterminado, ele é necessário, mas não claro: "comeram o bolo", "roubaram o carro". Enquanto em "está chovendo" ou "são duas horas" se considera que não cabe um sujeito, que ele não é nem necessário (é um fenômeno da natureza, apenas algo que acontece, uma situação), muito menos claro (a chuva chove, ou as nuvens chovem? ou o tempo chove, ou o céu..?): ou seja, que ele é inexistente.

Vale notar que mesmo em línguas como o francês ou o inglês, em que há um sujeito ("It's raining.") ele só está presente por força do rigor gramatical e é semanticamente vazio, sem significado, e não se refere a nada, a nenhum antecedente.

Isso obviamente não impede o uso figurado de verbos impessoais, por exemplo:

Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

Também relevante: Quando é que uma oração não tem sujeito?.

WicCaesar
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stafusa
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    Uma curiosidade: em certos idiomas, a chuva (ou neve etc) é o sujeito. Por exemplo, em japonês:

    雨が降っている Ame ga futte imasu Chuva está caindo (lit.)

    – kamekura Oct 24 '22 at 04:11
  • Interessante, @kamekura . Em português, "a chuva cai/está caindo" também funciona, em japonês não há o equivalente a "está chovendo"? – stafusa Oct 24 '22 at 06:33
  • no meu comentário acima, "chuva está caindo" é simplesmente uma tradução literal para ilustrar a gramática japonesa (eu poderia ter usado uma glosa interlinear mas me pareceu desnecessário...). A tradução normal de "Ame ga futte imasu" seria simplesmente "Está chovendo". "A chuva cai" soa mais literário, né? – kamekura Nov 04 '22 at 14:02
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    Que eu saiba, não há verbo em japonês coloquial que signifique "chover" (mas não ficaria surpreso se houvesse um termo usado me poesia etc). Mas sujeito subtendido é muito comum:
    1. Ame ga futteimasen ne? glosa: "chuva caindo não está (certo)?", Não está chovendo, né?
    2. Futte imasu yo. glosa: "caindo está (enfático)", Está chovendo sim.
    – kamekura Nov 04 '22 at 14:10
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Sujeito inexistente não faz muito sentido neste caso,pois toda ação é realizada por algo,seja por uma força maior ou coisa do tipo. Esse "algo" é o sujeito e sem ele a ação não se realizaria. É uma questão de lógica.

portuglish
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  • Desculpe, mas não entendi a sua asserção final: «Mas quem somos nós [...]». Os membros da Academia Brasileira de Letras não regem nem a ortografia nem a gramática. Eles têm especialistas, como Evanildo Bechara, mas também tem escritores como Fernando Henrique Cardosos, Gilberto Gil e Fernanda Montenegro. Estes talvez entendam de gramática, mas não são vistos como especialistas. Ainda, a Academia de Letras de Portugal também não rege a gramática, outrossim. Obrigado pela contribuição e seja bem-vindo a fazer mais respostas! – Schilive Jan 24 '23 at 19:51
  • Sim, me referia aos grandes mestres da gramática da língua portuguesa que compõe a cadeira. Mas obrigado por me lembrar deste detalhe. – portuglish Jan 24 '23 at 22:14
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    @Schilive Salve! Comentario editado. – portuglish Jan 24 '23 at 23:33
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    @portuglish Eu diria que, mais comum do que denotar "visto", o upvote no comentário pode denotar concordância. – stafusa Jan 25 '23 at 20:55
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Se não tô enganado, e espero que não :P, há uma diferença entre sujeito oculto e indeterminado: o primeiro é da primeira e segunda pessoas enquanto o segundo da terceira pessoa (singular e plural), estando em ambos os casos elíptico. O sujeito inexistente é quando não há um ator do verbo, o que, me parece, é diferente do que disse o Stafusa. Vejamos: a chuva cai, mas ela não chove. Há uma diferença entre uma frase e outra. Acho que a confusão persiste no pensamento de reafirmação: "a chuva chove" é como "estou subindo pra cima". Então diríamos apenas "chove" (com algum complemento eventualmente), mas não a chuva chove. Do ponto de vista da palavra falada não há problema nenhum nas frases, já o da norma culta, acho que diverge disto.