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É sabido que o português europeu tem uma preferência pela ênclise em frases “simples” como ela ajuda-me, mas prefere a próclise quando no início da frase há uma de várias palavrinhas a que vi algures chamarem “palavras atrativas”: ela não me ajuda, ela também me ajuda, etc. Na minha resposta a esta pergunta eu listei que como uma dessas palavrinhas que pede a próclise. E parece que tanto faz que ser pronome relativo (a) ou conjunção (b):

(a) Isso é um assunto em que ela te ajuda

(b) O João diz que ela te ajuda

Mas eu e, creio, a maioria do pessoal em Portugal dizemos:

(c) Fala com a Joana, que ela ajuda-te

Que é que se passa aqui? As orações em itálico começam todas com (em) que e empregam as mesmas palavras na mesma ordem, com a exceção de o te saltar de lugar. Há alguma explicação para este salto?

Eu sei que a conjunção que tem significados diferentes em (b) e (c). Mas isso é relevante?

A Gramática do Português da Gulbenkian (Lisboa, 2013) diz que ao longo da história a próclise sempre foi obrigatória em orações subordinadas (tomo I, p. 36). Mas (c) é oração subordinada, ou não?

Eu sei que a conjunção que tem significados diferentes em (b) e (c). Mas isso é relevante? A única outra diferença que eu vejo é que em (c) o que é precedido de vírgula, ou uma ligeira pausa na fala. Mas essa pausa também acontece em

(d) Querido filho, que Deus te ajude

e lá temos de novo a próclise!

Jacinto
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  • "Nesta resposta"? Qual? Faltou-te um link. – ANeves May 21 '18 at 13:32
  • Olha que (d) e (c) não são semelhantes, Jacinto. Podemos dizer só "que deus te ajude", mas não se diria só "que ela ajuda-te" - e talvez essa seja a razão porque os tes vão em sítios diferentes. – ANeves May 21 '18 at 13:41
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    (c) é coordenada explicativa, daí a ênclise. – Artefacto May 21 '18 at 16:51
  • @ANeves, são semelhantes no serem precedidas de pausa. Sim, no caso da (d) a pausa pode ser muito longa, ou não haver sequer nada antes. – Jacinto May 21 '18 at 17:10
  • @Artefacto, tipo "fala com a Joana, e ela ajuda-te"? Estava a ver a segunda oração mais como consequência da primeira. Isso é um padrão, a ênclise na coordenadas explicativas? – Jacinto May 21 '18 at 17:35
  • julgo que são resquícios dos problemas das orações auxiliares, que no Latim (tal como em Alemão), colocam sempre o verbo no final. Assim, neste sentido, parece-me que semanticamente que ela te ajuda seria mais correto. Mas é apenas uma presunção. – João Pimentel Ferreira May 21 '18 at 19:52
  • Não ponho resposta por não saber com certeza, mas posso comentar que uma pausa ou uma grande distância da palavra pode favorecer ênclise no asturiano quando estritamente esperaríamos próclise. – user0721090601 May 22 '18 at 18:17
  • @guifa, uma grande distância da palavra, com coisas intercaladas, também pode acontecer no português. Mas é uma coisa que nós corrigiríamos numa segunda leitura. Neste caso eu recuso-me a mudar a posição do clítico. – Jacinto May 22 '18 at 20:57
  • Parece-me um caso de ênclise. Talvez o "que" possa dar a impressão que deva ser próclise por ser comum em construções que requerem próclise. Por exemplo «eu acho que ela só te ajuda porque é muito tua amiga». – Rui Fonseca Jun 11 '18 at 23:01
  • @Rui, que requer ênclise eu não tenho dúvida. "Fala com a Joana, que ela ajuda-te", é como eu falo normalmente. Mas, "come a sopa, que te faz bem". A questão é porquê? – Jacinto Jun 13 '18 at 08:24

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