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As regras do uso dos porquês são muito difundidas pela internet. Geralmente, diz-se que o por que, separado, deve ser usado para frases interrogativas. Já o porque, junto, deve ser utilizado nas demais frases.

Entretanto, eu desconfio dessas regras simplistas, que servem apenas para induzir o estudante a memorizar informações sem se preocupar em aprender ou assimilar o conhecimento.

Por isso, com a leitura que eu faço da gramática, entendo que o porque, junto, pode ser escrito em frases interrogativas sem prejuízo da validade quando se quer introduzir a ideia de explicação ou causalidade.

Por exemplo, com o intuito de perguntar se a causa da prisão foi o roubo dos tomates, estaria gramaticalmente correta a frase interrogativa "ele foi preso porque roubou tomates?".

Enfim, há alguma incorreção na possibilidade de usar o porque em frases interrogativas? Há referências externas sobre esse assunto?

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Sim, tu podes utilizar o porque em perguntas interrogativas.

Uso do Porque

A forma porque tem bastantes classificações. São elas:

  • Conjunção Subordinativa Causais
  • Conjunção Subordinativa Finais
  • Conjunção Coordenativa Explicativa

Conjunção Subordinativa Causal

São as conjunções que exprimem a causa, a razão de um efeito.

Ex.: Porque eu te amo intensamente, muitas pessoas sentem ciúmes de nós?

Conjunções Subordinativa Finais

São aquelas que exprimem finalidade, objetivo, intuito, propósito, fim.

Ex.: Ore porque não caia em tentação.

Nessa classe podemos substituir o termo porque pelo para que.

Conjunção Coordenativa Explicativa

Esta classe serve para exprimir ideia de explicação, justificativa; normalmente a conjunção vem após verbos no imperativo.

Ex.: Não demore, porque sairemos em breve.


Uso do Por que

A forma por que — tal qual o porque — tem mais de uma classificação possível. São elas:

  • Locução Adverbial Interrogativa;
  • Preposição + Conjunção integrante;
  • Pronome Preposicionado

Locução adverbial interrogativa

Essa classe serve, como o próprio nome já diz, para estabelecer uma pergunta. Ela pode aparecer tanto em perguntas diretas, quanto em indiretas.

Ex.: Por que tu fizeste isso?

Ex.: Não sei por que insisto tanto em te querer.

Também podemos trocar o termo supra por:

  • por qual razão
  • por qual motivo
  • (o) motivo pelo qual (no meio de orações)

Preposição + Conjunção integrante

Nessa classe, temos uma coincidência, visto que a conjunção integrante serve para introduzir orações substantivas na oração principal.

Ex.: Eu sempre ansiei por que você me explicasse o motivo.

Observe que na frase acima, o verbo ansiar — nesse contexto — é transitivo indireto, pois pede a preposição na pergunta.

Quem anseia, anseia por algo

Pronome Preposicionado

De acordo com Rocha Lima, o por que quando podendo trocar por: pelo qual, pela qual, pelos quais ou pelas quais. É classificado como um pronome interrogativo preposicionado.

Ex.: São estes os motivos por que (pelos quais) não compareceu.


Como diferenciar o porque do por que

Normalmente, as pessoas têm o mau costume de decorar regras da língua portuguesa. Por isso bastantes pessoas confundem-se com algumas regras.

O porque, tal qual por que também pode ser usado numa pergunta. Normalmente ele é usado em perguntas cuja resposta é: sim, não, talvez, depende etc.

Ex.: Porque ele não veio à festa foi cancelada?

Ex.: Porque ele não veio, a festa foi cancelada?

A primeira dica é observar se a entonação da pergunta recai no termo por que. Caso recaia, utiliza-se separado; caso contrário, junto.

Exemplo:

“— Por que choras, senhor conde? Desafogue essa agonia.
Dê-me tua tristeza e dar-te-ei a minha alegria.”

Na segunda dica, tomaremos como exemplo a frase "Será porque ele viajou mais de 20 horas na classe econômica que está cansado?"

Para descobrirmos qual termo utilizar, devemos ignorar o verbo ser + que, que formam uma expressão expletiva. Feito isso, passaremos a frase para a ordem direta.

Ele está cansado porque (= pois) viajou mais de 20 horas na classe econômica?


Referências

PESTANA, Fernando. A Gramática para Concursos: TEORIA PROFUNDAMENTE COMPLETA E MAIS DE 1.300 QUESTÕES ATUAIS E COMENTADAS. [S. l.]: Editora Método Ltda., 2013.
BECHARA, Evanildo. Os principais tipos de adjuntos adverbiais. In: BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. [S. l.]: Nova Fronteira, 2012.

Valdeir Psr
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    Eu — quase sempre — excedo-me nas palavras. Caso a resposta fuja um pouco da pergunta ou esteja longa demais, peço que me ajudem a resumi-la. – Valdeir Psr Apr 03 '19 at 18:00