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Pelo que sei, a palavra "ciência" vem do latim "scientia", que era falado como "squiêntia". No inglês, se escreve "science", por causa da etimologia. Nambos, "sc" é falado como "s" e, "t" é escrito como "c" e falado como "s".

Então, por que, em português, se escreve "ciência" ao invés de "sciência", já que, em outras palavras, manteve "sc" pela etimologia? Por exemplo: "adolescente", "nascer", "descer".

  • acho que não existe palavras em português iniciando com SC. – Peixoto Jun 09 '20 at 07:28
  • @Peixoto, também acho. Por que será? –  Jun 09 '20 at 07:33
  • acho q existe apenas alguns fonemas em portugues que são constituidos por duas consuantes e são utilizados em portugues. PR, LR, TR, BR. Acho q se pararmos para pensar, devem ser todos com a segunda letra em R. – Peixoto Jun 09 '20 at 09:36
  • @Peixoto LR? Não existe fonema LR... arranjas um exemplo de palavra com ele? (Em "palrar" não é: tem "pal" e "rar", o L r o R são de fonemas diferentes.) – ANeves Jun 09 '20 at 13:33
  • tens razão...estou errado. :) – Peixoto Jun 10 '20 at 13:34

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Até ao princípio do século XX escrevia-se sciencia. O s foi eliminado (e o acento circunflexo introduzido) com a reforma ortográfica de 1911 em Portugal e o Acordo Ortográfico de 1943 no Brasil. A eliminação do s foi parte da eliminação das consoantes mudas. Do mesmo modo, assumpto passou a assunto, theatro a teatro, etc.

No caso de consciência, nascer, descer, o que se passa é que esses ss não são mudos em Portugal: essas palavras são pronunciadas como conchciência, dechcer, nachcer. Por exemplo, para um português florecer e florescer soam diferentes.

No caso brasileiro, o Formulário Ortigráfico de 1943 diz o seguinte (IV Consoantes Mudas; negrito meu):

Não se escrevem as consoantes que se não proferem: asma, assinatura, ciência, sdiretor, ginásio, inibir, inovação, ofício, ótimo, salmo, e não asthma, assignatura, sciencia, director, gymnasio, inhibir, innovação, officio, optimo, psalmo.
Observação — Escreve-se, porém, o s em palavras como descer, florescer, nascer, etc., e o x em vocábulos como exceto, excerto, etc., apesar de nem sempre se pronunciarem essas consoantes.

O “nem sempre se pronunciarem essas consoantes” indica que por vezes se pronunciavam. Agora, o que eu não sei é se nessa altura quem pronunciava esses ss eram só os portugueses, e o formulário manteve o ss na escrita em atenção às necessidades de Portugal (o formulário brasileiro de 1943 resulta de um acordo entre Portugal e Brasil) ou se também no Brasil havia quem os pronunciasse.

Rye
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Jacinto
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  • Pronunciava-se ou pronuncia-se? Obrigado pela resposta. Coisa louca, por sinal. –  Jun 09 '20 at 15:22
  • Sabes o porquê de, no Brasil, se falar "sc" como "s"? –  Jun 09 '20 at 15:29
  • @Schilive, "Pronunciava-se ou pronuncia-se?"; imagino que isto se refira ao meu último parágrafo. Quero dizer, se por volta de 1943, quem pronunciava esses ss eram só o portugueses ou também alguns brasileiros; os portugueses continuam a pronunciá-los. Porque é que os brasileiros pronunciam sc como s? Bem, os que não chiam o s é fácil: para eles o s e o c em nascer teriam de qualquer modo o mesmo som, ç, portanto aquilo funde-se tudo num único ç, Os que chiam o s poderiam em princípio pronunciar como os portugueses (nachcer, etc.); >> – Jacinto Jun 09 '20 at 16:33
  • obrigado pela resposta. –  Jun 09 '20 at 16:36
  • Segundo várias respostas a esta pergunta não o fazem. Porque não? eu não sei. Coisas da evolução da língua. Nota que parece já ter existido em Portugal a pronúncia nacer (de nascer). Rei D. Duarte (1391-1438) escrevia nacer e coisas assim (vê esta pergunta). Provavelmente coexistiram em Portugal >>

    – Jacinto Jun 09 '20 at 16:40
  • e foram para o Brasil uma variedade de pronúncias, e depois umas vingaram em Portugal, outras no Brasil.

    – Jacinto Jun 09 '20 at 16:41
  • Jacinto, quando os portugueses ainda não lhes chiavam os ss, provavelmente não falavam “nachcer”, pois esse “ch” viria do “s” atrás duma consoante, mas também não falavam assim como quando galego-português, que era “nastser”. Então, como será que falavam antes de chiarem os ss e depois de /ts/ > /s/, i.e., como Camões falava “? Se eu tivesse que chutar, diria que falavam como dois ss, isto é, “nas-ser” (dizendo s então outro s). Pergunto pois se tivessem transformado “nastser” em “nacer”, seria impossível saber se veio de “sts” ou não. – Schilive Feb 07 '21 at 01:28
  • @Schilive, eu não sei quando é qualquer dessas alterações ocorreu. No português medieval, o s,ss (como em sapo, passo) representava um som diferente do ç, c(e,i): sela e cela não eram homófonos, mesmo depois de c já não ser /ts/. Vê esta pergunta, onde até tens links para as duas pronúncias, que ainda persistem, ou persistiam ainda há pouco tempo, nalguns falantes do norte de Portugal. – Jacinto Feb 07 '21 at 13:25
  • Jacinto, talvez seja repetição do que já sabias, mas descobri recentemente que nascer, descer, conhecer e esquecer têm formas históricas nacer, decer, conhoscer e escaescer no século XIII, quando ce se falava /tse/, notando-se que todas essas palavras têm origem com "sc" ao invés de c. Então, provavelmente estavas certo que coexistiram, tendo algumas perdido o seu s, e outras mantido em Portugal. Eu talvez venha a pesquisar mais disso. – Schilive Sep 05 '21 at 04:29
  • @Schilive, não sabia de todas essas palavras, mas sabia de algumas. Aliás já tinha mencionado isso num comentário acima (4 acima). – Jacinto Sep 05 '21 at 11:10
  • Jacinto, fiz esta listinha (mais dela no texto): https://drive.google.com/file/d/1FUUCgAOX9kvFojggzNjQ3HUvK9eyDWgs/view?usp=sharing. Boa parte das palavras terminam em "-ecer", porque esse sufixo é bem usado, e inclui porque "-ecer" vem de "-escer". – Schilive Sep 06 '21 at 01:53
  • @Schilive, muito curioso. E nascer e descer são até pouco frequentes e tardias! – Jacinto Sep 06 '21 at 05:36
  • Jacinto, em Os Lusíadas, há tanto nascer quanto nacer, entre outros. Em textos em galego-português, como na Demanda do Santo Graal e Cantigas de Santa Maria, também aparecem ambos. Então, ou falava-se nacer e havia confusão escrevendo, tentando seguir a etimologia, ou falavam-se ambos ou era para economizar papel ou era erro. Pelo esmero das obras, Camões e CSM, e tantos outros exemplos disso se fazendo, duvido ser erro. Os textos em galego-português eram escritos conforme a fala, então, provavelmente não era erro etimológico. Pelo que vejo, ou era economia de papel ou dupla pronúncia.>> – Schilive Sep 07 '21 at 03:08
  • TODAVIA, nem as Cantigas de Santa Maria nem Camões (Camões li só um teco) faziam esse tipo de abreviatura, então, o mais provável é a dupla pronúncia. Só vou fazer outro comentário se eu tiver um livro ou um artigo, porque senão eu não consigo argumento melhor. Não é possível eu não encontrar nada!

    – Schilive Sep 07 '21 at 03:09
  • @Schilive, já viste esta pergunta, precisamente sobre este assunto? Eu acho dupla pronúncia (se não tripla ou quádrupla) o mais provável: para se escrever nacer é porque deveria haver quem pronunciasse assim (não precisas de economizar papel em versos). Mas se não existisse também nachcer, nastcer ou coisas assim, não vejo como é que nachcer apareceria depois (acho improvável influência de escrita etimológica numa palavra tão comum). – Jacinto Sep 07 '21 at 07:10
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Muito dessas palavras que mudaram, altera a pronúncia "sciência" era falado "chiência" a palavra "director" muda também, era mudo mas o "c" servia para aumentar a vogal, sem o "c" fica "dirêtor" em vez de "dirétor"

Grilo
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    Bem-vindo ao site, Grilo!. Em português do Brasil, é “dirêtôr” oxítona. Isso seria o mesmo para “recepção” e “aspecto”? Segundamente, neste site, Grilo, tenta-se usar referências nas resposta, pois uma resposta sem referências é basicamente equivalente ao argumento “o mundo gira porque eu quero”. – Schilive Feb 07 '21 at 01:12